sábado, 22 de dezembro de 2012

Muito além da forma


E por não mais
encenar a dor
que acha que precisa,
acham que te perdi.

E por amar,
em paz,
acham que te perdi.

E por não querer
e por perdoar
o que não precisa de perdão,
acham que te perdi.

E por deixar-me
símbolo do amor
acham que não te amo mais.

E por não amar
especialmente,
acham que não amo mais.

Mundo, mundo, vasto mundo.
O amor é inexistente para quem
encena e encena,
em círculos,
a peça da redenção
para, algum enfim,
( bem futuro )
( bem ilusório )
sentir-se merecedor:
de (!)...
amor.

Encenar não é viver.
E a vida está
pacificamente à espera
sem esperar:
a estréia.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

At your service


Eu não tenho nada para falar ao mundo. Vejo agora, um eu em malabarismos.: porque seria preciso acender a luz, o que seria acender a luz e como poderia acender a luz. Passeia a arrogância aparente em pensamento.

Somente quem sentiu o que viu e viu o que sentiu entende a impossibilidade dessa arrogância. A intensidade maluca de simplesmente dar as mãos e a alma a cada olhar que simplesmente não vê.... O próprio olhar próprio de doçura e doçura em meio a uma teia de aranha tecida do próprio estômago… Nada mais poderá conseguir fazer com que eu deixe de discernir a teia do olhar e o olhar da teia. E aqui está a gratidão de cada instante, cada inspiração, cada um que se me apresenta. Muito prazer.

A prisão não resume, e o olhar que de repente escapa é olha que nos liberta. Meu Deus, como algum dia eu pude pensar que explicando e explicando, alguém sentiria isso? E então, dançando como uma bailarina entre obstáculos invisíveis, tento desenhar o que é … Deixar pra trás. Como algum dia pensei que poderia explicar o que é deixar pra trás o que pensamos que é esse nós-mesmo ? Como pensei que seria claro que entenderiam que ao abandonar tudo, que abandonar qualquer idéia sobre si mesmo, sentiriam tudo e simplesmente, experienciariam amor?

Eu não tenho nada para falar ao mundo. Porque não há palavras ou linguagem. Não há maior clichê que esse e não há verdade que não o também seja. E é só por isso, que ele é o que eu sou. E é só por isso que consigo dizer que ele me é e eu o sou, porque não há predicados ou prejudicados em amor, e em simplesmente ser. Não sou nenhuma construção coletiva - mas posso vê-la. Não sou nenhuma construção particularizada do coletivo - mas posso vê-la. Não sou nenhum condicionamento temporal e familiar - mas o vejo. E os vendo, eu não os sou. Porque o objeto, até que enfim, é discernido do sujeito.  E vendo-os, deixando-os ser, reconheço a liberdade que busquei freneticamente até então. 

Já dizer meu nome até mesmo me soa, por vezes, estranho. Adoro que me chamem de amor. Oi meu amor… E nem mesmo ligo do meu aí, ele tenta mesmo estar em todos os lugares. Mas por vê-lo, ele não mais me é também. Poucos ainda os que praticam em prática a todo quase-instante: Dhyana. Como poderia pensar que em uma mesa e uma cerveja eu conseguira dizer à existência que a única coisa que ela precisa é saber-se existindo ? Mas, mesmo que ela não saiba, ela existe… Entende? Insiste em dizer: eu tenho uma vida. E eu só insisto em saber que você é a vida.

Eu não tenho o que dizer. Mas, eu posso dar tudo o que sou… Em realidade, não é nem uma escolha. 
E nesse instante, em algum momento, a defesa trêmula, desvanece. E aqui está: seu olhar de quem se deu por um instante, sem preocupação, sem medo, sem dor - sabendo-se aceito. Esse é o instante eterno - a intensidade, a intimidade, a conexão, o fora-do-tempo. Por isso, conseguimos conceber a frase: o amor é eterno. Poucas coisas podemos dizer em tantos tempos e continuar parecendo poder ser verdade, não?

Meu Deus, estamos com febre. E eu estive com febre por toda minha vida simplesmente porque não sabia que não era impossível ser saudável. "E por não saber que era impossível, ele foi lá e fez". Como explicar que conhecer a si mesmo é conhecer a Deus? Como é possível explicar que Deus mesmo não existe, porque Deus foi criado depois de Deus já existir. A vida é. A vida é. A vida é… E eu sou.

E você é. E você pode reconhecer a si mesmo por qual ritual você se sentir confortável. Da arte a mística - com conceito , "Você é Amor" , à tentativa de fugir dele,  você é Nada e é Tudo. Mas, escolha com carinho, escolha escolhendo. E isso não é nada fácil quanto soa. Porque sim… Aonde você coloca seu foco, sua realidade se constrói:

Se você se entender na ideia de que é preciso evoluir… Você precisará evoluir. 
Se você se entender na ideia de que é pequeno… Será pequeno.
Se você se entender na ideia de que é errado… Será errado.
Se você se entender na ideia de é preciso lutar…Você viverá lutando.
Se você se entender na ideia de que  é nada e é tudo…Você será nada, será tudo.
Se você se entender como amor fino… Você será o amor fino.

Você escolhe, mas continuará sendo o que não pode deixar de ser, mesmo então: a vida.

Eu não tenho nada para falar ao mundo.  A cada um que me vier com uma dor, darei uma cor - ou o cor. Simplesmente porque o atrás dela ficou tão palpável.  Simplesmente porque não há mais nada que eu possa fazer. Não há mais nada além disso.

Como poderia pensar que há algo a ser feito que  não seja se relacionar escancaradamente com cada um que se apresenta e simplesmente vislumbrar-mo-nos ? 


Hear my souls speak...Of the very instant that I saw you, did my heart fly at your service.





Citação 01 - Cada hora um fala que é de alguém. Cocteau, Twain. Foda-se.
Citação 02 - Shakespeare, Tempestade. 



segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Calcanhar


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A Metáfora que não chega


Sorrio pela ponta dos dedos
os dedos que sorriem pelo livro
o livro que sorri pro dedo

Deus meu,
meu coração não aguentou mais.

Quem mentiu que ele daria conta
de ser metáfora do Amor?

Pensando ser possível:
tercerizei um pouco.

Mas a trindade
é, também,
uma ilusão.

Fico aqui,
assim e então,
explodindo


em implosão.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Entusiasmo ou En Theos.


Que abismo há
quando se dá
comprando
obrigado:

a(h!) étiqueta
aqui jaz O bonzinho.

Que abismo não há
quando se dá
só pra vetar,
mesmo que por um instante,
nada instantâneo,
que se esqueçam
da doçura

que
é
e, assim,
são.

Pensar e Salvar


Ai de quem me salvou
sem saber que salvava
Ai de quem pensou salvar
o que nunca precisou
ser salvo.
Ai de quem só pensou
e não salvou
(-se)

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Grata


a lágrima de sim
escorre
e deságua
sem secar

no campo de trigo
que doura o céu
que doura o campo
que doura
o que dura
e doura
deveras

a lágrima,
perfeita que é
quando não chora.

A lágrima,
perfeita que é
quando não conjugada.

A lágrima
perfeita, que é.


Deus chorou em plenitude
e ela nunca escorreu

.
.
.

Grata.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Do Amor Livre

E por acaso existe Amor que não seja Amor Livre ?
Primeiro, vê-se Livre e instantaneamente, se vê Amor.

O problema inexistente é: não se fazer Livre implica em não se reconhecer Amor. E, ainda assim, se faz amor, sem abrir os olhos. De luz bem apagada. Garantindo e mantendo o Medo.

Fazer esse amor só pode ser uma brincadeira, feito legos que se encaixam um no outro, sem nunca se reconhecer fundidos - e só fodidos mesmo. Não satisfaz porque não é, simples assim...Mas, é possível continuar brincando, assim como se continua brincando de liberdade pelo mundo afora (ou adentro). E brincadeira não tem risco, não tem problema, não tem ameaça. Só se vai na montanha russa com o cinto bem preso.

Eu não acredito em Amor Livre. Porque ele, na verdade, não precisa de crença.
Ele precisa da falta delas, do vazio. Ele precisa da falta de respeito completa, da falta de educação, de polidez e de teoria.  Ele precisa da falta até mesmo de mim e de você. Ele desconhece isso. E enquanto se desconhece isso, desconhece-se, e em confusão : toma legos pelo castelo. Os legos desmontam, o castelo não.

Essa escolha que nem mesmo existe, é, a todo instante: ser feliz ou não ser. Ou não Ser. Ensaia-se essa questão enquanto ainda não se vê Livre e epifaneia que essa pergunta é um paradoxo. Porque só é possível: Ser. E esta continuará sendo eternamente a certeza.

A única fuga para não ser é continuar brincando. Mas, continua sendo brincadeira, fantasia escolhida a dedo para o palco do instante - o barco Vicking, o pula-pula, o frio na barriga.

...

Em verdade, Alice, você não tem escolha alguma a não ser quebrar o relógio
e ser ao invés de não ser. Quem sabe assim, entende que não tem porque quebrá-lo: o relógio é um símbolo do Tempo. O Tempo é um símbolo de não ser.

Mas, Ser continua sendo a única possibilidade.
Assim como o Amor Livre.
Simplesmente, porque um é o outro e o outro é Um.


quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Source Temple

a dualidade só poderia servir para uma coisa:
enquanto se olha o divino
e se olha a si mesmo
percebe-se,
num instante fora do julgamento,
e assim, do tempo,
que não há diferença alguma.

e no dois
se esconde
escancaradamente
o que é Um

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Ajuste as pupilas

Há um turbilhão nada turbilhado.
agulhas sem pontas
estouram o vazio disfarçado de bolhas.
A fragmentação
do que nem era
parece tremilicar
enquanto pulsa...

Há um burburinho
que não grita
que não chora
que não sofre.
Um burburinho feito de
olhar de criança
  se olha no espelho e
  de repente !
  aquele Sou eu.

Entre a firmeza
e a suavidade
ainda parece haver
um mapa a se decifrar
não decifrável
mas, completamente
e unicamente,
a experienciar.

Estou aqui
vendo o era-impossível acontecer
enquando abano as mãos
para o papel de identidade
que me encaixei
(nada acolhida)
e ainda, encolhida.

Não julgue
Não julgue
Não julgue

E a verdade se me apresenta:
- Muito Prazer.
e me junta...

É a folha que dança
ao invés de simplesmente cair
no chão.

É o sol que abre
quando cogito
frio

E me junta
E não julga
E me junta

E só assim
expandir, sem partir.
sem nunca retornar...

Ai a moldura
que reduzia o retrato
Ai da moldura
que reduzia o retrato
Cadê a moldura
que reduzia o retrato ?

Veja aqui o retrato
(não-retratado!)
Estendido, bem posto
gentilmente disposto
à palma do seu coração.

eu respiro
sabendo que não há volta
porque parti de onde não existe.

eu respiro
sabendo que não há volta
vislumbrando a porta
do que É.

eu respiro
e aguardo
a disposição correta
 ( nada milimétrica, mas exata! )
que permitirá estes não-olhos
ver
o que nunca mais
será
ignorado...
e só poderá, é claro
ser,
agora.

sábado, 20 de outubro de 2012

Sem Nome

Não é possível buscar qualquer coisa.
...qualqueres...
Nada se compara a liberdade
que é o amor.

O amor é 
a completa falta de condicionamento
a nudeza
nu
daquela donde (e onde!) brota
e donde (e onde!) só poderia brotar
qualquer criação.

Amar é não nomear.
Amor é ser.








e só.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Só Amanhece e não Amanhece só.

Quando disse para mim mesmo
- Já vai tarde...
Nem mesmo Tempo houve
(ou dor, ou sofrimento)

Tão o tarde foi
Tão de novo: Dia.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Sombra Fresca

Entendi,
assim,
o que é criação.

É explodir em Felicidade.
Sem mesmo
se machucar
Sem mesmo
se fragmentar.

Porque Criação
é uma alegria espreguiçada:
Ela estica, estica e estica
E tudo simplesmente é
e r e l a x a.

Não caibo..
no que pensei
por um torto instante torto
que cabia ser
(mim-guado.)

Olho para o que era
Sombra.
E descanso...
ali mesmo:

fresca sombra iluminada,
no fim de tarde do verão
espreguiça-se a plenitude orquestrada
nas asas da única visão.

simples assim jorra
o instante sem qualquer hora
simples assim pulsa,
essa Vida não avulsa.

Simples assim...
desarma,
o sem avessos Amor
que inala.








quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Rendas

Não, 
não preciso 
correr.

Não mais é

o que era:
aquilo de se não ser
aquilo de se provar.
aquilo de não se ver
aquilo de se provar.
aquilo de se não ter
aquilo de se provar.
aquilo de Se...

Não mais é

aquilo de se pedir
não pedindo
de se chorar
não chorando
de se quebrar
estilhaçando...

Não mais é

Mesmo que vente
gelado
E por vezes,
confundo,
cortado:

o rosto

que me disse
- temo que desista
com o rosto
que deveras
nem mais me existe.

eu desisto.

de mim,
de mim e de você,
de mim, de você e dele.

poucos ainda, os que sabem...

o valor de render-se.

eu me rendo,

e todas as rendas dançam livres
colorindo o Céu...

sem nem mesmo

tampá-lo
porque todo ele... 
sempre 
novamente
eternamente

me É.



quarta-feira, 10 de outubro de 2012

oo


Nino para que Acorde


Serei paciente.
Cada deslize, cada remexido
no estômago.

Serei paciente
Cada aperto, cada vento,
no peito.

Serei paciente
Cada plano, cada futuro
na Mente.

Serei paciente
Cada ilusão
Que vem e vai.

Serei paciente,
Amorosa !
Intensamente amorosa
com cada mentira
que dança.

Eu nino você,
meu querido não eu
que mal se sabe.

Eu nino você,
meu querido não eu
que tenta
enganar-se.

Eu abraço cada desejo
Sem abraçar.
Eu ilumino suas raízes
Sem apagar.
Eu abraço cada medo
ilumino,
Integro,
Descanso
(os).

Eu nino vocês,
porque não há luta
não há conflito
não há
os seus maiores medos
os seus maiores palcos
Eu nino você...

para que acorde,
sem susto
e sem mesmo pensar
que há qualquer escuro.


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Você tem Medo de que?


Haddad. É, eu votei no Haddad.  E provavelmente, fiz como você segundo as pesquisas... Eu ia anular meu voto, mas foi se aproximando a data e a questão do "menos pior" foi direcionando minha posição. Fiz igual a você também, que votou no Serra. Fiz igual a você (mesmo!) que votou no Russomano. Todos nós votamos no menos pior : sem fé alguma, sem esperança alguma e prontos pra outra.

Pela primeira vez,  no entanto, eu votei sem isso como um peso... Ah! Como me doía. Hoje não: que seja o menos pior... Confesso que a questão do Russomano me deu um certo mal estar temporário. Pensar que chegamos a tal ponto da cegueira (e)vidente. Mas, por fim, tudo segue em paz... Porque a política é falida, mas nós não. Porque o ser humano pode até ser falido, mas a vida não.

Por algum tempo me vi tentando vestir a roupa militante ou consciente-não-alienada. Mas, para quê? Pergunto seriamente. Ou ao menos, mais ou menos seriamente, porque meu coração já está decidido.

Posso falar a partir de vários pontos, mas basta dizer:
Amigo, 25% dos seres humanos consomem 75% dos recursos do planeta; as 200 pessoas mais ricas têm o patrimônio equivalente ao de 2,4 bilhões das pessoas mais pobres; 1/4 das crianças brasileiras vivem na miséria absoluta; 1.500 crianças morrem a cada hora no mundo. E isso só são os dados para te aterrorizar quanto a miséria e concentração de renda. Mas o que se pode falar ainda do desastre ecológico: erosão, desertificação, adiós florestas, adiós biodiversidade, água doce!, hello lixo radioativo e blábláblá de combustível fossil... E a a ilusão dos direitos humanos acompanhada da marginalização, exclusão social, injustiça, desigualdade social-economica-política e... Racismo (a essa altura do campeonato?!)

Olhando para isso eu sorrio ao escutar o termo conscientização de voto. Sorrio mais ainda ao ver o dedo apontado para o amigo que anula o voto. Sim, e parece que eu já to escutando quem tá me lendo...É fácil falar que não funciona, mas fazer algo para mudar que é bom nada, né?... É fácil dizer que a política não funciona... É ? Eu não acho que é fácil, na verdade, não é nada fácil admitir que o sistema como um todo da democracia representativa não funciona. "Aí é pegar pesado", escuto. Democracia representativa não funcionar? E o século num-sei-quê e a Revolução Francesa, e a Revolução Americana, e... Não funciona? "Ah! Você é comunistinha, né?", "Ah! Você quer a volta da Ditadura?"... Deus me livre! Mas, e você, já viu essa democracia ai funcionar?!  Nope.

A grande questão não é o sistema, não são as eleições, não é nem o capitalismo porque todos os sistemas até então lidam com alguma forma de exclusão e violência. E você, o que você quer? Quer é que se foda qual linha ideológica porque o que quer é ser feliz e ponto.... Ou como é até moda no mundo, você quer é Amor (e você tem todo o direito!) E eu te pergunto... Dá pra ser feliz enxergando violência ?

A exclusão social e a violência sintomática são o arroz com feijão do sistema (e a farinha). Ele precisa delas. E o que faz a democracia representativa? Alguns de vocês, vão representar aqueles lá e aí, faremos o melhor para a maioria. Mas, e a minoria? A minoria, meu amigo, vai reagir... Porque ninguém quer ser excluido. O cara não quer ser excluido de uma partida de futebol na aula de educação física... O que você acha da exclusão em tudo que ele tem como parâmetro para felicidade e satisfação vai fazer com o cara? Como que em um mundo em que o valor central é o egocentrismo e o individualismo da posse e da competição contempla qualquer futuro de liberdade e não violência? Não contempla (mas não precisa se matar.)

A política está falida. A política é corrupta... Na maior essência da palavra, porque corrupto é o coração rompido. E quem é rompido na essência ou quem é fracionado no coração está corrompido por completo... Porque não dá pra pessoa ser íntegra (lembra dessa palavra?) sendo dividida. O íntegro é inteiro. E aí a gente começa apontar o dedo:  PT, o PSDB, o PP... Mas, pois é, a corrupção começa e termina em você (e em mim).

A política, assim como a linguagem, assim como as artes e qualquer coisa, é feita a sua imagem e a sua semelhança. Se não fosse, não seria tal como é... Não se sustenta. Vai ano e vem ano, vai século e vem século... E o ser humano está construindo e projetando tudo a sua imagem e semelhança fragmentada e cheia de corrupção. E eu não estou falando em aceitar o troco a mais da padaria... "Ah! O brasileiro em sua essência é corrupto". Simplicidade quase bonita esse resumo do caráter brasileiro. O brasileiro tá cansado de ter que vestir o traje de brasileiro... Entende?

Em quantas pessoas você se divide(!) no seu dia? O político, o jornalista, o pai, a mãe, o filho, o funcionário, o militante, o gentil, o bonzinho, o educado, o moralista, o libertário, o comunistinha, o revolucionário ? Eu me canso só de listar, cara... São as pequena correntes pesadas que resolve dizer que é você e pronto, se apegou e ...Rodando e cantando. Nos prendemos insanamente aos papéis que achamos que precisamos representar no palco do mundo - e isso nem é consciente! Hay que sustentar tanta corrupção. Tanto ego. Mal sabe que está alimentando toda miséria, exclusão, violência do mundo... Simplesmente porque você guardou uma raivinha toda essa loucura existe.

O mundo precisa do seu sorriso. E do sorriso leve. é o momento da maior urgência em militancia  de todos os tempos.

E as pessoas acham que o sorriso depende de coisas. Cada dia o mundo te coloca uma meta ou você se coloca uma meta. E de meta em meta que não te faz o tanto feliz quanto achava, você vai descobrindo que na verdade, verdadeira... De nada adiantou ter quatro filhos. De nada adiantou casar de véu e grinalda. De nada adiantou a casa na praia. De nada adiantou mandar os filhos pra faculdade. De nada adiantou ir pra Miami fazer compras. De nada adiantou ganhar aquela briga com seu chefe. De nada adiantou se vingar do seu ex-noivo. De nada adiantou militar a vida inteira... De nada adiantou, meu amigo, e nada (e não "de nada!") vai adiantar... E se eu te disser que enquanto você acreditar que precisa se defender, que precisa de coisas e de seguranças, que precisa ser o bom em cada máscara que você resolve que te é (e te fragmenta!) só vai alimentar cada vez mais o Tropa de Elite que tem atrás de cada medo ?  O inferno só é os outros porque é dificil demais olhar para dentro da gente. é dificil demais mudar a gente... Então, vamos mudar o mundo vai. E nos isentamos no "eu fui criado assim" Não, você foi condicionado assim.

Tá mais que proliferado a critica a sociedade paulistana - conservadora e fascista. A sociedade vai mal, e vai mal porque você vai mal. Vai ai, saindo de casa com medo, olhando as pessoas de lado, não olhando ninguém no olho e querendo atravessar a rua quando vê um mendigo. E quem tem dó? "Ai que dó do mendigo... " Sabe porque você tem dó do mendigo? Porque não tem ideia da prisão em que vive, você olha pra ele de cima pra baixo.... Sem ideia de quanto medo você sente diariamente, instantaneamente, alucinadamente. Se eu trocar a palavra medo por julgamento talvez fica mais fácil de entender...Mas, é só para ser digerido melhor porque todo julgamento é medo - vamos rotular, vamos rotular pra não sair do...Controle (xiu!) :

O quanto você deixou de ser porque não quis ser julgado? Sim, tá cheio de gente que nessa hora fala. "Não, eu não. Eu falo tudo o que penso... " Pois é, e o quanto você se julga por cada pensamento? Quem está confortável com o que pensa não precisa gritar, não precisa atacar, ele só é.  Quem está confortável em qualquer pensamento não precisa defende-lo a ferro e a fogo, meu amigo. Quem está bem sendo o que é não precisa de discussão para apontar o que pensa, não precisa convencer ninguém, só precisa mostrar... E se a pessoa não aceitar, você também aceita. Mas, não. Padecemos da prisão das prisões. Do julgamento e medo constante que precisa loucamente que o amigo diga que estamos com razão - alguém precisa validar essa realidade, consigamos o sim que nos salva diário (Eu estava certo!)....  A prisão, uma fragmentação interna que é palpável ao olhar  males sociais e psicológicos. Estamos na era do pânico, da depressão. E os muros vão subindo. Só que não são os muros dos condominios de luxo que me preocupam, esses são reflexo turvo. São os que vejo em cada um que passa na rua.... Lutando para que a sua visão do mundo seja A visão do mundo. E essa luta com o mundo é só a mimese de uma luta interna. O debate egóico constante. As pessoas as vezes gostariam de simplesmente tirar suas cabeças e deixa-las no armário com suas roupas... E pegá-las de manhã para ir trabalhar. O mundo interno pode ser feróz. O peso e contrapeso constante de quem você é com a tua parte que te julga. Exclusão social é fichinha de mudar, amigo. Até porque ela precisa dessa mudança. Ela precise que você ame, que você ame loucamente o amor fino... O amor que só vem quando você consegue desconstruir aquele seu medo que te faz querer possuir tudo e estar seguro e no controle.

Estamos todos ensimesmados. E eu não estou falando de ser mais altruista, mais generoso e bonzinho. Não, isso é reflexo. Nós  esquecemos de ser simplesmente - e pior, nem reconhecemos essa luta... As pessoas acham que é natural se verem com tamanha crueldade e julgamento. Esquecemo-nos quem é dono do pensamento e achamos que somos ele. Esquecemo-nos quem é dono do corpo. E achamos que a realidade está ai. Você pode perder tudo o que tem, pode perder as pernas e as orelhas, mas você continua sendo você. E esse nós é o único foco que possibilita o fim deste conflito e o florescimento de outro valor....Só um valor  molda qualquer coisa. Só um valor realmente é mudar - só basta Se olhar. Eleições?! Eleições é só o fiapo de gelo que voa da ponta do iceberg. Passar um dia olhando os seus sentimentos, cada julgamento interno, cada julgamento externo, medo e cada sentimentozinho de culpa (nada inho)...Se dedicar um dia a isso de coração, já é uma revolução.

...Cai assim a ilusão do valor do "topo da cadeia alimentar"... Que topo, meu irmão? Que escadinha? O corpo é comido por vermes... E sabe qual é o paradoxo?  Sua luta com você mesmo só vai acabar quando descobrir que ter medo da não existência (ou da morte) não te leva a lugar nenhum, que não precisa ser aceito e sobreviver no medo e se ajustando a modelos milenários que são colocados e ser aprovado, que não precisa fazer uma pilha de coisas para se sentir seguro... Muito menos pra ser feliz.

Para o valor de guerra e violência existir, ele precisa partir de você.
A integridade começa no coração.

---------------------

Obrigada,

ao que Sou,
e ao reconhecimento de que sou Livre.


" If I can't live with myself. Who am I and who's that self that I can't live with ? " E. Tolle.




quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Por trás da Muralha (in)Visivel


poderia
dar o mundo inteiro
a cada um que não é
ninguém
e é Tudo

poderia
dar o mundo inteiro
a cada um que é todo Um...
se o mundo
fosse alguma coisa.

o que dou
hoje
é muito mais dado
e recebido
(deveras)

o que dou hoje
é a única não-coisa
que se pode dar
e receber
(sem ponto final algum)

o que dou
é a única realidade
é a única verdade
é o que é e mais nada

o que dou hoje,
sempre Hoje,
é o que nem mesmo
precisa dar
nem mesmo (!)
precisa receber...

porque hoje,
meus amores,
sem plural algum,
eu dou o que vocês são.

e ai reside,
sem residência alguma
a Liberdade.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Sem poesia e sem Arte.


Há quem acredite
que vai levando...
Mas não é preciso carregar nada.

Há quem acredite
que não se pode ser feliz.
E não é preciso poder algum.

Há quem acredite
que busca a paz.
E não é preciso buscar nada.

Há quem acredite
que deseja mil coisas
e assim, por fim, ser pleno.
(ao invés de pleno Ser)

Ninguém busca nada
enquanto busca
ter razão.

Para se ter razão
basta só enxergar

o que já se decidiu
que é o Si mesmo.

E perder-se, logo,
na fantasia do pesadelo
- o Medo -
que a ninguém persegue
e por todos,
é feito,
mas nunca e nunca
criado.


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Eu te daria uma flor se já não tivesse dado tudo ao dar meu coração


a primavera
brotou brotando
e nunca pensei
que tanto me veria
numa Estação

...nada parada
mas em paz
sem adeus algum
e em paz
sem mão ficando
sem mão indo
e em paz.

nada se perde,
nada se transforma.

a primavera
é a estação que não acaba
porque ser
está fora do tempo
porque viver
está fora do tempo

o vento no rosto
que não assobia
o sol calmo
que não queima
a chuva mansa
que não deixa
molhado
enquanto vai aguando.

a primavera
é a primeira
( e única )
verdade.

porque é ela
quem e o que
 vive.






quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Dar é Receber


Ontem recebi um grito :
Te amo!
Do motoqueiro,
(que não vi o rosto, mas O vi)

Logo depois,
um homem me fala,
quase cantando
e todo sorridente:
bom descanso, menininha.

Já tava eu só sorriso
mesmo antes!
Tive que pedir aos meus braços
aos meus olhos
ao meu umbigo
(e esse gosta de manha!)
para acompanharem,
e sorrirem também....

Dariam conta eles do Amor?
Dariam-se conta, eles,
que somos só Amor?

Dariam-se. E assim,
se dão.

(Fotografia Enrique López-Tapia)

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Paradinho


Alguma coisa do mundo parou parado.
Alguma coisa se viu no espelho
e se reconheceu: firme.

Não é um local,
não há residência
que fixe
qualquer conceito.

Mas, alguma coisa
que não é o fundo
do poço
descobriu a Fonte.

E a água fluiu.
E flui sem fluir nada.
Porque o que é eterno não muda.

Alguma coisa parou.
E sempre parada esteve
Porque é a base da base da base.
Sem avessos.

Alguma coisa
não se importa
para onde eu vá
quem eu abrace
o que eu tenha.
(o que eu faça!)
Ela fica, se mantém : p a r a d a.

Não há choro,
nem vela
no olho do furacão.
Vejo claramente:
só é vento
só é castelo de cartas
marcadas...
Por cada um que
distribui seu baralho.

Meu bem,
só bem,
eu jogo por diversão
não faço apostas.

Meu bem,
só bem,
eu me jogo
sem nunca brincar de fato
com sorte alguma.

Não há choro,
nem vela.
Há somente a certeza
de que não importa
o quanto eu mude.

Eu não muda.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Viajo porque ainda não sei que não preciso


Um amigo mais que querido vai fazer uma viagem e um filme - o que seria o tal do roadmovie. Ele é do tipo que se torna imerso nos seus projetos, admiravelmente. Assim, ele está conversando com várias pessoas, vendo várias referências e, se o conheço bem, deve estar pulando em sua mente diariamente - o filme, a viagem, o filme-viagem.

Eu amo viagens. E quem me conhece só um pouquinho sabe qual é o grau que essa frase atinge para mim. As viagens são amadas por tudo o que sou e isso será entendido ainda mais pra frente. E, bem,  talvez por estar com essa conversa marcada, talvez pelas férias estarem chegando, talvez por simplesmente eu , até que enfim, entender o porque das viagens serem tão importantes, tive uma reflexão mais adensada...

Viajo porque ainda não sei que não preciso, volto, sem, de fato, nunca mais voltar. Se estivessemos no Oriente eu apenas diria essa frase ou  uma fábula de animais e você teria que se virar para entender as mil camadas dela. Mas, aqui não. Aqui eu vou dizer exatamente o que quero dizer. E espero que não se bastem ai, porque obviamente está além do que se está dizendo, sempre.

As viagens são uma ferramenta incrível para se colocar no presente. Estamos excessivamente acostumados com nossas vidas. Acordo às sete, tomo banho, tomo café da manhã - pão, manteiga, leite, café - tomo ônibus, tomo as ordens do dia e trabalho. Em que momento se está aonde deveramente estamos? Em que momento não há uma meta, não há um costume tão acostumado que só deixamos os condicionamentos levarem o dia? Acostumamos tocar o dia sem experienciar as coisas além do que os condicionamentos permitem.

Em uma viagem isso não funciona.. E quanto  mais é "exótico" mais ainda temos que nos fazer presentes. Assim, percebe-se uma árvore diferente, uma flor mais-linda-que-todas, um costume-estranho-do-Outro. O dia é notado, suas minucias, suas cores - a arquitetura, a culinária, os modos, a educação. Tudo é olhado sabendo-se ser Hoje. O que nos é estranho é notado, quando notamos de fato - como uma criança - estamos no presente. Ao menos, infinitamente mais do que na rotina.

Estar no presente já é valorizado em diversas filosofias e no senso comum. Ele permite conhecer a si mesmo uma vez que você vai além do que está programado a fazer. Permitimo-nos a experienciar o que é "diferente" e medir novamente... Esse presente carrega outra questão que a viagem também potencializa - joga o fósforo aceso em quem permite que seu coração pegue o fogo da vida:

A viagem nos presenteia a experiência de que não existe dualidade. Novamente, quanto mais exótico - e mais sozinho então - mais conseguimos experienciar o segredo da vida. Quando vamos à uma cultura distinta da nossa - e do nosso dia-a-dia - experienciamos que não há o certo e o errado. A circunstância do tempo, da cultura, do social, do familiar e ainda, do individual egóico sempre é a medida para o que seria um certo e um errado. Vemos o indiano usando a rua como banheiro, vemos o muçulmano  parar e rezar na rua, vemos os insetos fritos sendo comida. Estranho, mas certo para alguém em algum lugar. Não existe nada que não seja possível juntamente com o seu oposto na mesma medida. (Olha a ideia de vela do Jung aí ou então,a ideia do paradoxo só ser uma questão de tempo em Shakespeare e, ainda, lindamente em Oscar Wilde: o caminho dos paradoxos é o caminho da verdade )

Isso é presente não só no costume aparente mas na moral, na tradição,nos traumas, na ideia de mãe, de pai, de casamento. Uma atitude sempre vem pautada por esse contexto cheio de camadas. Fica difícil vermos no nosso dia-a-dia essas camadas porque é tudo tão familiar - de alguma forma compartilhamos esses rótulos e ideias e ao mesmo tempo particularizarmos com nossos traumas egóicos. As camadas são, aliás, a base do conflito interno e externo. Porque afinal, se entendermos o quanto cada um age tão pautado por camadas (a tal da projeção) que nem ele (ou eu...) mesmo tem controle não seria tão mais fácil perdoar genuinamente e viver, exatamente.... no presente?

Viajemos assim. Ao estarmos no agora e sentirmos que a dualidade  não existe entramos em contato com o tal Algo Universal que está muito além e é inclusivo - totalmente, sem qualquer preconceito, sem qualquer julgamento. Temos a oportunidade de descartar qualquer certo e errado colocado pelos rótulos que vestimos até então - o filho, o estudante, a mãe, o namorado, o brasileiro, o classe média, o pecador... E sabemos disso, sentimos isso em algum nível.

Tiramos fotos. Queremos embalar e guardar para todo o sempre e deixar acessível esse conhecimento libertador com algo simbólico. Aqui, eu tomo a licença, para ir além.  É frequente querermos fotografar quando algo é tão feliz e que nos entrega a sensação de plenitude. É frequente escutar também aquela coisa - será algo que contarei aos meus filhos. A eternidade está emprenhada nesses momentos, ela aparece ou dentro da cultura como manifestação artistica - foto! - ou no pensamento e no que dentro da cultura entende-se como eternidade : o filho.

Mas, o passo além não está aí. O passo além está onde os olhos vão se espremer e a testa franzir quando lerem. A dualidade mais dificil de se transcender é a da vida e da morte. O sentimento de eternidade reconhecido ao se experimentar o segredo da não dualidade, o segredo da inexistência do certo e do errado - o Uno tornando-se palpável em algum nível - é sentido e depois manifestado de uma forma que não traga conflito direto. A fotografia, o filho, a familia. Mas, para quem se disponibiliza experienciar o segredo de verdade... Para quem consegue estar tão no presente e somente disponível vive-se, de fato, a transcendência da dualidade última presente em toda ideia de Morte e em todo o Medo.O primeiro medo que dali resulta e o qual serve de base para a engendração de todas aquelas camadas ditas lá em cima... Afinal, bem é sabido que todas as máscaras - do ego até a roupa - vêm da "necessidade" de se encaixar na Grande Máquina: adaptar-se seria sobreviver... Sobreviver não é mais uma questão, no entanto, quando não mais tenho a vida enquadrada na ideia dual.



Viajo porque ainda não sei que não preciso.
Volto... Sem nunca voltar.







quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Hoje.

Hoje,
eu teria asas.
e beijaria você
sem pena alguma.

Hoje,
eu teria fé
e aceitaria você
sem mágoa alguma.

Hoje,
eu seria o sim
e não pediria você
sem parte alguma.

Hoje,
eu seria a Cura
e deixaria você
em parte alguma

que não fosse
toda junta
e aqui.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A carência em prosa e da prosa sobre carência.

O problema da palavra carência é que ela é tão grande (!) que abarca o fundo e o inicio do poço. 
Podemos estar até vendo a luz lá de fora, mas enquanto não tirar os pés... 
a droga da palavra ainda serve e, pior, 
carrega toda a lembrança do caminho de subida do poço
que sabemos, eu e você, 
não sermos mais.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Um

para se abrir o Presente
há de se retirar
todos os Nós.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Quanto mais culto menos amor.


O altar que fica
é o vazio
da foto em branco
e preto
de quem foi.

O altar que fica
é o resistente
reticente
da dúvida
que é.

O altar que fica
é o silente
sem prece
ma(i)s presente
que
não será.

Não há quem se ajoelhe.
Não há quem doa.
Não há
(também)
     ar.

...Que traga
a combustão
que tanto aqui
cabe
ou de vez:
acabe.

sábado, 4 de agosto de 2012

Yoga


O chão,
em carne
viva,
segue molhado
bem fecundado
em gotas
constantes.

A água
que cai...
cai não vista.
Mesmo que beije
em seiva de vida.

Eu não abro os olhos
 - enquanto eu,
encontro nada.

Não se abre os olhos
- enquanto ali,
encontro nada.

Enquanto aqui, enquanto agora:
encontro luz.
Que discerne,
gentilmente,
a ligação:

Descoberta se faz
a chuva que cai
a gota que molha,
a carne que brota.

Desvendado é assim,
sem inicio e sem fim:
o Universo
em Yoga.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A morte lhe cai bem


    a flor que 
  cai
           é a asa
    da saia
       que dança
        e balança
     em seiva
    de corpo
                 de luz
           e prece.























Photography © Ana Gotz

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Pelo zunido das tuas asas / ou Your Hands are cold.

Pegaram meu coração
de calça curta.
(nesse frio!)

Abri os olhos,
e o que mais se pode fazer?
Calças curtas
é o necessário !
para caminhar pela margem
que vem e vai
vem e vai
entre o mar
e a areia.

Pegaram meu coração
de calça curta.

E ele,
bem-sabido que é,
abriu os olhos
para imensidão verde marítima
para cada estrela...
que não sabia se dançava
enfeitando-se
em fogos de artíficio
ou simplesmente
se era
porque ser é A Beleza escondida de todas as coisas.

Flutuei de coração descalço,
de máscaras arriadas - até em cima: pra sentir tudo!
E nem mesmo a neblina
pôde me impedir de ver
o que é.

Deitei-me em céu aberto
em mar aberto
em peito aberto
no colo de Ananta:
até ela, em paz.

Entre a leveza
e a firmeza,
a flor me brota
em mil pétalas
que fazem cócegas
no estômago.

e me deixam assim,
sem nunca deixar...
grávida de eternidade.






terça-feira, 26 de junho de 2012

Ao meu primeiro Amor, com amor.

Com todo amor do mundo, 
para quem quer que precise
desse Amor hoje...
(e para você, em especial)

Porque corremos todos 
para o Grande Oceano
mas,
às vezes, 
enquanto riachos
parecemos melindrar 
por pedras escorregadias
e duras.

Deito hoje,
com o peito gelado
pelo coração que bate
mas não respira
em aperto.

Deito hoje,
com os pés gelados
do resquício
daquele lago
que encontrou agora
Netuno.


Estrelas em fogo,
brilhem
e acolham
a alma que vai


Estrelas em fogo,
brilhem 
mas esquentem...
a alma que fica (!)


Que o Amor retire, assim,
tudo que possa ser retirado
dessa angústia intrínseca 
desse jogo nada jogado

(do Tempo
e do Fim)








sexta-feira, 8 de junho de 2012

Do cálice.


Transcende
Imanente
Coração
Sem carne:

Eu,
que não deixei minhas migalhas
para achar o caminho
de volta...

Não se pode
seguir as pegadas
que não sejam
minhas, Heloísa.

Transcendente
Imanente
Coração
Sem Carne,

Não bem sei,
se foi o caminho do meio,
Mas sei bem,
Que sigo o tal caminho sem trilha.

Heloísa,
dizem trilhar
em suas saias
a porta do Diabo

Mas, enxergo apenas
o som da lira esculpida
em seu peito,
que canta
enquanto chorou
e agora sorri.

Transcendente
Imanente
Coração
Sem Carne,

Sinto o frio
não sei se da barriga
- da minha ou deste bicho marinho que me roça.
Seria do metal que não reluz ?
Daquele martelo
que em pouco rachará a noite
emprenhada de dia.

Heloísa,
Está tudo prestes a ruir.
E sua música ressoa com força e resistente,
Talvez eu veria,
se me dessem de vez aquela tocha.

(E, me dizem risonhos,
que é só tomá-la.)

Mas, aqui estou,
pouco vendo,
e sentindo...
que a noite abraçará o dia
e nada mais ressoará
de relógio algum.

Transcendente
Imanente
Coração
Sem Carne,

Quem me guia
e guiou,
Heloísa.

Aqui estou,
Posto que em lugar nenhum mais,
poderia eu estar
que não fossem nas rédeas
da sua Roda Gigante.

Porque nada mais faz sentido,
a não ser Ser e Não Ser, ao mesmo tempo
Contigo.







segunda-feira, 4 de junho de 2012

Do meu nariz

o céu paulistano
estava quase não cedendo
deixando o sol imitar
aquele estilo portenho de ser

hoje, no entanto
acordou sedento
de chover chovendo.

ele,
sem titubear,
declarou:
se não chovo, ao menos descanso.
(e bem se sabe: há de se escurecer para descansar)

O escuro do quarto
O escuro dos olhos
O escuro do silêncio.

As nuvens, assim, se achegam
para choverem entre si
e lavarem todos
sem colocar,
no entanto,
na corredeira
o peso que carrega
 cada coração.

o Oceano, assim,
flutua
sem Aquele peso
do que ainda não se vê
inteiro,
mas em partes
pesadas de tanto caçar

 o inter(des)ruptor.


Nana meu filho,
enquanto a chuva cai,
porque enquanto existe poça
nunca haverá o fundo do poço.

Descansa, meu filho
enquanto a chuva cai,
porque o escuro
nem sempre vem
com a escuridão.

Feche os olhos, meu filho
porque quando fores
 -o Oceano, -
serás filho e mãe
pai e irmã...
do mundo que deveras flutua
voando entre
e em seus dedos

bem embaixo do falso desejo.

bem aqui,
bem ali,
hoje e sempre,
fazendo a dança sensual
que parece exigir sempre
ser bem embaixo
do seu nariz.



domingo, 25 de março de 2012

Fechando o verão.

Março saiu correndo feito uma criança assustada.
Bem sei, o mês três!
Só poderia ser assim: querendo juntar tudo misturando
E deixar uma ligeira impressão: uma coisa só e muito mais, querida!

Águas e águas,
(de Março, del mondo!)
Merci...
Por correr assim, depressa, e olharem pra mim:
Tchau, tchau...
Beijo pra quem fica.

Ah o ano ensaia,
para sair em desparada...
Enquanto fico aqui,
debaixo da sombra fresca
da árvore que me dá as mãos,
em raíz.

Corra meu bem, corram.
O tempo é meu amigo,
Ele, risonho, aperta minha barriga e gargalha:
- você sabe que estou brincando , né?!


Sim! Mas amo: o ritual -
diário
anual
constante!
E assim, boto as rédeas...
capto o instante pelo ventre:
sinto o significado
sinto o intimo universal.

Para descartar,
delicadamente à música
o tic-tac do corpo
da máquina:

eu danço,
com o pé sujo de mundo
e a cabeça sem saber
se voa
ou farfalha...

segunda-feira, 12 de março de 2012

Só cabe no verso de Drummond

Esse tal uso da reticência me machuca.
Tão poética
e reduzida, assim,
à faticidade (ou fatalidade)
de deixar o canal
aberto:

Fica assim,
um quase tudo bem pequenino
ou olá preguiçoso!
um vácuo amputado no silêncio apoético.

A reticência
ainda assim me segue
pontualmente necessária
posto que é
tanto a veia calada que grita no peito
quanto o indizível e intransponível discurso da alma

O qual gostaria tanto de sonorizar
Exorcizar em verso.
Mas num cabe -
nem na lingua
nem na linguagem

Só cabe mesmo
podendo até espreguiçar-se
no mais vasto lugar que existe
esse bicho arcaico e primitivo
que se diz coração.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Pé-de-galinha

A velhice me alcançou
em plena década de vinte
Aquelas letras encolheram
Essas pessoas mudaram de nome
(algumas, de soslaio, deixaram de existir...)

As rugas me apanharam
e deixaram hematomas
grandes e roxos
(tal qual da enfermeira preguiçosa
para achar minha veia!)

E o rangido da esquina
de cada parte do meu corpo
desistiu de assobiar e
e, de garganta arranhada,
até ele pede sossego.
(abandonou o rock n´roll)

A idade chegou
sem contar vela alguma
ela sentou cansada,
na cadeira de balanço,
que nem mesmo tenho.

Ela vai,
ela volta
ela vai,
ela volta.

Eu não lembro bem quem está nessa foto.
Eu não lembro bem porque eu queria tanto ir pra essa festa.
Eu não lembro bem quantos anos fiquei naquele trabalho da rua do seu avô.

O cansaço me alcançou,
e ainda é o meio da semana.
Assim, eu sinto,
as centenas de vidas que tive,
sem mesmo ter, apenas endurecendo

Tenho, de repente
setenta e sete anos.
Ninguém me pergunta se quero ler minha mão.
Ninguém me pergunta qual é o meu sonho.
Ninguém me pergunta o que era mesmo que eu achava.

Eu não acho mais...
O óculos que eu acabei de mandar fazer.
A meia de lã que eu comprei no inverno passado.
O telefone solitário e silencioso.

O silêncio sim me pegou.
Enquanto canso demais
para brincar de esconde-esconde
com cada remédio que tomo
para pregar os olhos.

É setenta e sete anos,
e eu só tive vinte
Sou setenta e sete anos
e só tive vinte.

Tudo porque
ainda é quarta-feira.
E a quarta-feira é feito o burrico do meu avô.
Passa pela janela por horas e carrega o fardo
De toda semana.

Tenho hoje,
as primaveras da primavera primordial primitiva.
Porque sinto o endurecimento da engrenagem em cada
veia.
Porque sinto o cansaço da engrenagem em cada
volta que parecia ir (mas volta).

Deus meu,
o mundo é velho
tão velho

E, hoje, quando ele sussurrar boa-noite ao espelho,
verá sem dúvida alguma:
meu eu,
de olhar assim
longe
e
seco.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Dos pedaços arrancados no caminho

A terra que tenho
embaixo de cada pé
tem o suor frio
da noite adoentada.

O pé que tenho
embaixo de cada corpo
sustenta 
( por um fio )
o sobrepeso das almas...
que insisto carregar.

As pernas que tenho,
embaixo deste tronco,
não têm folhas,
não têm Sol,
Ou mesmo seiva.
(sequer)

O peito que tenho,
embaixo de minha face,
sustenta, mesmo infiltrado,
(bem nas partes onde perfurado)
cada eu...
que me foi.

O rosto que tenho
embaixo deste Céu,
segura(-se)
em cada eterno instante 
que olha no espelho
gelado e cortante 
do que foi e não é.
( e não será...)

Os olhos que tenho,
bem aqui
olhando para Deus,
aguentam
não mais...

a lágrima
que brota
e esquenta
a terra fria.

a lágrima 
que brota
e emprenha
a terra antes fria

a lágrima
que brota
e me deixa
à terra nada fria

não mais tenho
isso que me era
de novo e também.

Da perpétua transformação.

Não se pode ter para sempre
mas sempre se pode
não ter mais.

e ser Tudo
e ser Nada

Pois sim...
Não se pode ser feliz para sempre.
mas sempre e sempre se pode
ser feliz.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Fairies.

Uma vida
é
um respiro..
A licença poética
de Deus.

É o choro primal
de sanidade
em meio a selva egóica
perdida...
em espelhos tortos.

E eu
que nem vi você chegar
que nem vi você ainda chegar.

Uma vida
nunca é só uma
Ela vem com o universo todo
(torcendo...)
Vem toda: bem definida

E vejam só,
Bem pensaram que era menina.

Uma vida sempre será
A chance...
De acreditar, mais uma vez.

Posto que em cada canção de ninar
O som se estilhaça
E beija toda
Nova velha alma
Que brota e se espreguiça
Do outro e deste lado
Em semente...
Decidindo acreditar
(de novo e de novo!)
em Amor.


I do believe in fairies.
I do.
I do.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Som do Silêncio.

não existe arte sem dor.
profunda.
de lá de onde, não mais se discerne
o que é amor
o que é dor
o que é-não-é.

só na profundidade
é no escuro
que tenho a luz.
a luz e as cores.
o som e o silêncio.

halleluijah.halleluijah.halleluijah

não existe arte
que não seja
redenção.
de lá do fundo,
de mãos dadas com Dante e Deus.
onde nada mais se discerne...

a amplitude do não tempo
sem segundos
em cem segundos.
sem sombras
sem velas
sem você

não existe arte que não seja perdão.
Perdoe-me, perdoem-me.
Por ainda não ser, por ainda não ser
O que sou,o que somos.

Não há arte que não seja o perdão
Sentido, sussurrado e gritante
Eu  sou o dedo estendido
Da Capela da Sistina.
Não!
Eu sou a molécula que vibra entre os dedos da
Capela.E já sou todo: uma prece.

Não existe arte que não seja
O grito.
Essencial.
(Me dê a mão.)
Porque estou aqui, bem aqui,
No auge da esquizofrenia
Do falso nós.

Tudo porque 
Não existe arte que não seja
Da profundeza
Da consciência em resquício
De que eu sou
Também e desde sempre:
Você.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Não esqueça...

Quando a saudade vai embora,
é um susto (dos grandes)
uma vez que é aquele instante
pavoroso, porém eletrizante
em que se foi a última -
depois da lágrima
depois da gota.
Podendo eu, gritar, por fim:
Feche a porta!








Enfim, 
pois sim
... descansar. 







sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Rei Leão.

Há de se matar um leão cada dia
para não ceder à engrenagem
da roda
que dizem ser da vida.

Há de se matar um leão por dia
para que ele não me mate
fazendo-me pensar ainda (!)
que reino...
(enquanto padeço)
na selva de pedra.

Há de se matar um leão por dia
para que não ceda assim
a batida do meu coração
a quem falsifica sólos
enquanto só floresço
em percussão.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Diga a verdade, diga a verdade, diga a verdade.

A dor e a delicia
de ser transparente
Todos podem me ver
E tantos nem querem

A dor e a delicia
de não esconder
de não mentir:
Todos podem ver
E poucos enxergam.

Eu não devo favores,
eu dou-me de alma
em trabalho
em amor
em vida.

A graça de poder
dizer a cada um que me dá a mão
eu estou e sou contigo,
você é e está comigo,
e seremos - o mundo ! -
e teremos - tudo ! -

assim e sempre:
quando eu digo
o que digo
sem querer dizer
nada mais.
sem querer
nada mais.

Porque quando se abandona
o negócio
a trama (ou o drama) cai...
nas mãos do verdadeiro artista
e nasce, assim:
a salvação diária.

O entre-espaços que me junta.

Ai eu fico
tão feliz com pouca coisa.

De coisa em coisa,
a galinha não vai pro forno.
E o zoológico todo sorri.

Ai eu fico feliz
com pouca coisa.

Uma música sorridente.
Um livro gentil.
Um espelho educado.

Ai que feliz que eu fico
com tão pouca coisa.

Essa coisa pequena que é:
Tatear o que só os olhos mesmo
não poderiam ver.
Cheirar o que só os olhos mesmo
não poderiam ver.
Sentir :

Ai que feliz que eu fico
acenando (Oi!)
pra cada ventre de molécula:

é o amor que existe
na minhalma feliz e gritante -

ah! nessas pequenas coisas
(p e q u e n i n a s...)
não cabe, nem mesmo
os anos-luz
que nos separam
do inseparável
que nos é.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O estalo da madrugada.

Quando pensei:
Deus.
Desenharam-me pombas, cruzes, luzes.

Quando chamei:
 - Deus.
Vestiram-No de branco : em pele, em barba, em bata, em água
(benta)

Quando senti
Deus,
Ele não veio mais:

Transbordou uma quentura do corpo,
Átomos agitados dançantes,
Poros em coro,
Cantando...

Obrigada,
Obrigada,
Obrigada.

Nem mesmo sei dizer bem dizer
o que não precisa dizer do indizível.
Porque se está sempre,
Aqui estou, sempre.
Nesse lindo e eterno - sempre.
Que é o agora.


            - Não Me dê a mão,
           porque não há o que dar...
           Posto que receber,
           é Eu não estar todo:
                    vivente,
                  por vezes, até
                 sobrevivente
                    em  ti.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Porque de ( Para minha mãe)

Deixe estar,
mesmo quando sem:
o bem-estar.

Porque a arte é a luz que entra
no quarto mofado da angustia,
e liberta
e beija
com uma brisa que desfila:

Arrepiando a face do retrato
Preto e branco,
Quase coitado.

Refrescando o leito
Em pedaços,
Mas não ainda salgado.

Deixe estar,
logo vem, ele vem:
este bem-estar.

Porque o verso
é o exorcismo submerso
de cada coração, antes indigesto,
que lendo vai, assim, deixando
o que seria antes

pranto.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

El hombre.

O que dizer
da poesia, nada fina
da larga mandíbula.

O que não dizer, indizível
da alma silente gritante que carrega
toda barba malfeita.

Ah! Se insinua, assim,
desfeito (!) o acordo social
da limpeza cordial.

O que dizer,
do olhar castanho amendoado,
do pescoço pesado,
do calo em mãos dado.

Dizei
a poesia que há,
em cada duro caminhar
dessas almas práticas,
com pouca prática,
na arte de se dar.