quinta-feira, 28 de junho de 2012

Pelo zunido das tuas asas / ou Your Hands are cold.

Pegaram meu coração
de calça curta.
(nesse frio!)

Abri os olhos,
e o que mais se pode fazer?
Calças curtas
é o necessário !
para caminhar pela margem
que vem e vai
vem e vai
entre o mar
e a areia.

Pegaram meu coração
de calça curta.

E ele,
bem-sabido que é,
abriu os olhos
para imensidão verde marítima
para cada estrela...
que não sabia se dançava
enfeitando-se
em fogos de artíficio
ou simplesmente
se era
porque ser é A Beleza escondida de todas as coisas.

Flutuei de coração descalço,
de máscaras arriadas - até em cima: pra sentir tudo!
E nem mesmo a neblina
pôde me impedir de ver
o que é.

Deitei-me em céu aberto
em mar aberto
em peito aberto
no colo de Ananta:
até ela, em paz.

Entre a leveza
e a firmeza,
a flor me brota
em mil pétalas
que fazem cócegas
no estômago.

e me deixam assim,
sem nunca deixar...
grávida de eternidade.






terça-feira, 26 de junho de 2012

Ao meu primeiro Amor, com amor.

Com todo amor do mundo, 
para quem quer que precise
desse Amor hoje...
(e para você, em especial)

Porque corremos todos 
para o Grande Oceano
mas,
às vezes, 
enquanto riachos
parecemos melindrar 
por pedras escorregadias
e duras.

Deito hoje,
com o peito gelado
pelo coração que bate
mas não respira
em aperto.

Deito hoje,
com os pés gelados
do resquício
daquele lago
que encontrou agora
Netuno.


Estrelas em fogo,
brilhem
e acolham
a alma que vai


Estrelas em fogo,
brilhem 
mas esquentem...
a alma que fica (!)


Que o Amor retire, assim,
tudo que possa ser retirado
dessa angústia intrínseca 
desse jogo nada jogado

(do Tempo
e do Fim)








sexta-feira, 8 de junho de 2012

Do cálice.


Transcende
Imanente
Coração
Sem carne:

Eu,
que não deixei minhas migalhas
para achar o caminho
de volta...

Não se pode
seguir as pegadas
que não sejam
minhas, Heloísa.

Transcendente
Imanente
Coração
Sem Carne,

Não bem sei,
se foi o caminho do meio,
Mas sei bem,
Que sigo o tal caminho sem trilha.

Heloísa,
dizem trilhar
em suas saias
a porta do Diabo

Mas, enxergo apenas
o som da lira esculpida
em seu peito,
que canta
enquanto chorou
e agora sorri.

Transcendente
Imanente
Coração
Sem Carne,

Sinto o frio
não sei se da barriga
- da minha ou deste bicho marinho que me roça.
Seria do metal que não reluz ?
Daquele martelo
que em pouco rachará a noite
emprenhada de dia.

Heloísa,
Está tudo prestes a ruir.
E sua música ressoa com força e resistente,
Talvez eu veria,
se me dessem de vez aquela tocha.

(E, me dizem risonhos,
que é só tomá-la.)

Mas, aqui estou,
pouco vendo,
e sentindo...
que a noite abraçará o dia
e nada mais ressoará
de relógio algum.

Transcendente
Imanente
Coração
Sem Carne,

Quem me guia
e guiou,
Heloísa.

Aqui estou,
Posto que em lugar nenhum mais,
poderia eu estar
que não fossem nas rédeas
da sua Roda Gigante.

Porque nada mais faz sentido,
a não ser Ser e Não Ser, ao mesmo tempo
Contigo.







segunda-feira, 4 de junho de 2012

Do meu nariz

o céu paulistano
estava quase não cedendo
deixando o sol imitar
aquele estilo portenho de ser

hoje, no entanto
acordou sedento
de chover chovendo.

ele,
sem titubear,
declarou:
se não chovo, ao menos descanso.
(e bem se sabe: há de se escurecer para descansar)

O escuro do quarto
O escuro dos olhos
O escuro do silêncio.

As nuvens, assim, se achegam
para choverem entre si
e lavarem todos
sem colocar,
no entanto,
na corredeira
o peso que carrega
 cada coração.

o Oceano, assim,
flutua
sem Aquele peso
do que ainda não se vê
inteiro,
mas em partes
pesadas de tanto caçar

 o inter(des)ruptor.


Nana meu filho,
enquanto a chuva cai,
porque enquanto existe poça
nunca haverá o fundo do poço.

Descansa, meu filho
enquanto a chuva cai,
porque o escuro
nem sempre vem
com a escuridão.

Feche os olhos, meu filho
porque quando fores
 -o Oceano, -
serás filho e mãe
pai e irmã...
do mundo que deveras flutua
voando entre
e em seus dedos

bem embaixo do falso desejo.

bem aqui,
bem ali,
hoje e sempre,
fazendo a dança sensual
que parece exigir sempre
ser bem embaixo
do seu nariz.