segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Não esqueça...

Quando a saudade vai embora,
é um susto (dos grandes)
uma vez que é aquele instante
pavoroso, porém eletrizante
em que se foi a última -
depois da lágrima
depois da gota.
Podendo eu, gritar, por fim:
Feche a porta!








Enfim, 
pois sim
... descansar. 







sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Rei Leão.

Há de se matar um leão cada dia
para não ceder à engrenagem
da roda
que dizem ser da vida.

Há de se matar um leão por dia
para que ele não me mate
fazendo-me pensar ainda (!)
que reino...
(enquanto padeço)
na selva de pedra.

Há de se matar um leão por dia
para que não ceda assim
a batida do meu coração
a quem falsifica sólos
enquanto só floresço
em percussão.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Diga a verdade, diga a verdade, diga a verdade.

A dor e a delicia
de ser transparente
Todos podem me ver
E tantos nem querem

A dor e a delicia
de não esconder
de não mentir:
Todos podem ver
E poucos enxergam.

Eu não devo favores,
eu dou-me de alma
em trabalho
em amor
em vida.

A graça de poder
dizer a cada um que me dá a mão
eu estou e sou contigo,
você é e está comigo,
e seremos - o mundo ! -
e teremos - tudo ! -

assim e sempre:
quando eu digo
o que digo
sem querer dizer
nada mais.
sem querer
nada mais.

Porque quando se abandona
o negócio
a trama (ou o drama) cai...
nas mãos do verdadeiro artista
e nasce, assim:
a salvação diária.

O entre-espaços que me junta.

Ai eu fico
tão feliz com pouca coisa.

De coisa em coisa,
a galinha não vai pro forno.
E o zoológico todo sorri.

Ai eu fico feliz
com pouca coisa.

Uma música sorridente.
Um livro gentil.
Um espelho educado.

Ai que feliz que eu fico
com tão pouca coisa.

Essa coisa pequena que é:
Tatear o que só os olhos mesmo
não poderiam ver.
Cheirar o que só os olhos mesmo
não poderiam ver.
Sentir :

Ai que feliz que eu fico
acenando (Oi!)
pra cada ventre de molécula:

é o amor que existe
na minhalma feliz e gritante -

ah! nessas pequenas coisas
(p e q u e n i n a s...)
não cabe, nem mesmo
os anos-luz
que nos separam
do inseparável
que nos é.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O estalo da madrugada.

Quando pensei:
Deus.
Desenharam-me pombas, cruzes, luzes.

Quando chamei:
 - Deus.
Vestiram-No de branco : em pele, em barba, em bata, em água
(benta)

Quando senti
Deus,
Ele não veio mais:

Transbordou uma quentura do corpo,
Átomos agitados dançantes,
Poros em coro,
Cantando...

Obrigada,
Obrigada,
Obrigada.

Nem mesmo sei dizer bem dizer
o que não precisa dizer do indizível.
Porque se está sempre,
Aqui estou, sempre.
Nesse lindo e eterno - sempre.
Que é o agora.


            - Não Me dê a mão,
           porque não há o que dar...
           Posto que receber,
           é Eu não estar todo:
                    vivente,
                  por vezes, até
                 sobrevivente
                    em  ti.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Porque de ( Para minha mãe)

Deixe estar,
mesmo quando sem:
o bem-estar.

Porque a arte é a luz que entra
no quarto mofado da angustia,
e liberta
e beija
com uma brisa que desfila:

Arrepiando a face do retrato
Preto e branco,
Quase coitado.

Refrescando o leito
Em pedaços,
Mas não ainda salgado.

Deixe estar,
logo vem, ele vem:
este bem-estar.

Porque o verso
é o exorcismo submerso
de cada coração, antes indigesto,
que lendo vai, assim, deixando
o que seria antes

pranto.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

El hombre.

O que dizer
da poesia, nada fina
da larga mandíbula.

O que não dizer, indizível
da alma silente gritante que carrega
toda barba malfeita.

Ah! Se insinua, assim,
desfeito (!) o acordo social
da limpeza cordial.

O que dizer,
do olhar castanho amendoado,
do pescoço pesado,
do calo em mãos dado.

Dizei
a poesia que há,
em cada duro caminhar
dessas almas práticas,
com pouca prática,
na arte de se dar.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Mói a Maré Moi.

Ai Netuno, Netuno,
móiamarémoi.

Serei eu
sempre peixinho
daqui acolá
daqui acolá?

Idéias, pessoas 
(personas)
Aquiacolá
Móiamarémoi.

Dói demais,
peixinho
nadar por todo mar 
ser íons,  emláecá:
o sal bipolar.

Ser em Netuno,
Ai Netuno,
ânsia de se entregar.

Ai Netuno,
móiamarémoi:
preciso de ar.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Simplicidade apoêmica.

Um poema todo.
Poderia ser assim:
Adorei o dia em que te conheci.

Aliás, enfim,
até que enfim:
chacoalhamos todo esse morto suor
dos Fins que sabemos - eu e você - decor.

Ah!
não falemos:
do lado escuro do travesseiro
não falemos:
do que era pra ter sido e não foi.
não falemos :
da cantiga mais triste

(que da andorinha.)

Falemos e falemos:
Do silêncio que existe
na nossa sala de cinema:
Desconstrangimento - apoêmica palavra,
poetizada pela felicidade.

Descansemos
os corações.
Descansemos
a tristeza.
Descansemos,
porque adorei, realmente adorei,
o dia em que me reconheci, e te vi.

Logo ali.
Ali.